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Rádio Rock Capital entrevista China Lee

Por Welton Warheart



O músico - que passou pelas bandas Salário Mínimo, Naja e Extravaganza - fala da carreira, das reviravoltas no movimento musical e da perda, há um ano, do maestro André Matos, parceiro, amigo e grande referência musical.



"O André foi um dos maiores incentivadores da minha carreira. Não consigo deixar de me emocionar ao falar do André Matos”, declara Lee.

China Lee é parte da história do Rock e do Heavy Metal Nacional, sua história se confunde com os maiores eventos que ocorreram na cena desde os anos 80. Em sua carreira, o artista sempre resolveu explorar novos caminhos com fidelidade e honestidade para com seu estilo, seja no Salário Mínimo, no Naja e na Extravaganza.

Vamos ao bate-papo com um dos pioneiros do Heavy/ Hard Nacional:


Rádio Rock Capital: Primeiramente, gostaríamos muito de agradecer a oportunidade de nos ter concedido esta entrevista. Com mais de 40 anos na estrada, como é olhar para trás e saber que é tão importante para história do rock nacional?

China Lee: Será que sou tão importante para o Rock? Será que o Rock é importante para este País? Acredito que já foi mais importante, hoje não sei o peso da minha importância, fiz o que deveria ser feito, com amor, honestidade, caráter. Não é qualquer um que abandona família e uma carreira mais rentável. Fui um administrador de empresas que deixou de lado passeios, diversão, para ser melhor com o que deveria fazer. Dei o máximo de mim, fui honesto e ainda mantenho minhas convicções.



Rádio Rock Capital: O "SP Metal", coletânea lançada por Luiz Calanca da tradicional loja e selo "Baratos e afins" rendeu muita visibilidade à banda e ao primeiro trabalho da banda " Beijo Fatal", rendeu quase 80 mil copias vendidas. Gerou uma extensa turnê em solos brasileiros, além de inúmeros convites para os mais variados programas de rádio e TV brasileiros, o que até então, não era comum às bandas, diria não tão comum até mesmo em tempos atuais.

Como poderia resumir aqueles anos iniciais, até o lançamento do primeiro trabalho “ Beijo Fatal”, lançado em 1987?

China Lee: O início dos anos 80 foi marcado pela transição. “Roqueiros, Hippies, e o rock mais pesado era dominado “Rock Pauleira”, tivemos como referência ídolos como” Made In brazil” e “ Patrulha do Espaço”. Com o surgimento da NWBHM , aquele encontro sonoro, fez com que ficássemos malucos e desenvolvêssemos mais influências para nosso estilo musical. A febre inglesa veio para cá e cada esquina tinha uma banda tocando. Os primeiros shows eram lotados e aquilo era incrível. Tínhamos shows de terça a domingo, nas escolas e teatros. O Luiz Calanca ( Baratos e afins) identificou este movimento, assim surgiu o SP Metal, com todas aquelas bandas maravilhosas: Centúrias, Vírus e também o Avenger que substituiu o grande Harpia.

O Salário se destacou tanto com este lançamento, por aproveitarmos o que outras bandas não queriam fazer, tocávamos em praças, rodeios, programas de televisão e para onde nos chamavam com os sucessos das apresentações a gravadora RCA foi até o Luiz Calanca. Estávamos produzindo nosso disco de estreia: Beijo fatal”. Vale lembrar que quase todo mundo passou pela mão do Luiz Calanca, 365, Titãs, Barão Vermelho... Pelo fato de termos sido liberados pelo grande Luiz este foi um grande passo na carreira da banda, para se ter ideia em 1987, fizemos por volta de 124 shows, 40 programas de televisão populares em 30 dias, programas populares nos quais tocávamos heavy metal.

Segundo a gravadora vendemos 78 mil cópias e tenho a certeza que fomos discos de ouro. Em um grande mercado, tinham paredes de discos da banda. Os anos 80 não pode ser decifrado em poucas palavras, mas diria que tínhamos irmãos entre as bandas, público ávido por música, inúmeras bandas cantando em português, rádios e programas de televisão tocavam nossas músicas. Em tempos atuais, não veremos mais pessoas curtindo o heavy metal em espaços públicos de convivência.


Rádio Rock Capital: Cabeça Metal, Delírio Estelar são faixas que até hoje não soam datadas, existe uma atmosfera incrível, onde fica evidente a paixão pela música e o Rock como estilo de vida. Vivemos em um país onde se dá muito valor apenas ao que é produzido internacionalmente, no entanto é evidente que: Salário Mínimo, Centúrias. Vírus e Avenger, mesmo com as dificuldades impostas produziram um disco extremamente bem produzido para os padrões da época. Como era, entrar em um estúdio naquela época? Como sente a resposta do público atual a respeito da clássica coletânea?

China Lee: Entrar em um estúdio era um sonho para qualquer banda, devido a dificuldade existente, para termos uma ideia apenas o Centúrias tinha entrado em um estúdio, e aquilo era surreal. O estúdio Vice Versa, era genial e tivemos a produção do “ Zé Heavy”. Gravamos em 8 canais assim como os Beatles. Não sabíamos como gravar em outros canais. É preciso se transportar para época. Assistam o documentário “ Brasil heavy Metal”, assim conseguiriam entender.

O heavy metal brasileiro possui uma sonoridade própria, consideramos as bandas: Metalmorphosis, Taurus, Azul Limão, Overdose, Stress, temos uma sonoridade própria, porque os técnicos não sabiam trabalhar com heavy metal. Tínhamos que convencer os técnicos a microfonar guitarra, como os técnicos faziam com a estrutura sonora de nossos ídolos. Isto foi gravado há quase 40 anos atrás. O SP metal é mencionado no mundo inteiro, a pouco tempo atrás foi lançado na Finlândia, com qualidade fantástica. A banda “Força Macabra” canta todas musicas do SP Metal, em português, na Finlândia!

Músicas como “Cabeça metal” continuam sendo extremamente cultuadas, porque música boa não morre. Vale lembrar o quanto nossas músicas soam diferentes e ainda mais intensas e pesadas ao vivo.


Rádio Rock Capital: Acredito que seja muito difícil falar de influências com uma banda que ajudou a modelar e disseminou um estilo. “Beijo Fatal” é um trabalho muito ousado para época. Vale destacar as clássicas: “ Dama da Noite”, “Jogos de Guerra”, “Anjos da Escuridão” e a faixa-título: “ Beijo Fatal”. Ousadia essa que fez do disco atemporal. Além de influenciar, quais eram as influências da banda naquele período?

China Lee: As influências do Salário assim como de outras bandas eram as influências internacionais que transportávamos para o Brasil. Tínhamos como base o Black Sabbath, somos uma banda do final dos anos 80. Quando surgiram para nós Judas Priest e Iron Maiden nosso gosto ficou ainda mais refinado. A explosão americana do Hard rock nos influenciou muito no que diz respeito ao visual e postura de palco. Podemos considerar que temos Judas e Iron como Influências primordiais na estrutura sonora e enlouquecemos com a postura de palco de bandas como Motley Crue, Wasp e muito Stryper!


Rádio Rock Capital: Após um longo hiato, tivemos em 2009 o trabalho “Simplesmente Rock”.

China Lee: Ficamos bastante tempo sem gravar e considero que poderíamos ter trabalhado melhor ainda as músicas que tínhamos. Temos dois públicos do Salário mínimo, tanto os mais hard rockers como a galera do heavy metal. “Simplesmente Rock” teve uma rejeição por uma galera no Brasil, no entanto hoje ele vende muito mais do que em outrora. Por exemplo, meu amigo André Matos, sempre elogiava o nosso set. Muitas destas músicas deste disco estarão em minha versão acústica. Adoro este disco, sem dúvidas o melhor trabalho da minha carreira.

Rádio Rock Capital: Muitos motivos podem fazer com que uma banda atravesse um período sem gravar, no entanto sabemos que a paixão pela música e a carreira nunca teve um fim, pois a alma do músico e artista o acompanha. Neste disco temos um China explorando ainda mais as extensões vocais em letras mais emotivas. “ Ao Menos em sonho” e “ Anjo” são as músicas mais emocionantes do disco. Poderia nos contar um pouco da emoção que sente ao cantar estas músicas?

China Lee: Estas músicas marcam um momento tão especial, criativo e me trazem lembranças da relação do artista e o ser humano, quais me deixam sempre extremamente emocionado. Impossível não se emocionar com estas músicas, me preparei muito, me dediquei muito, simplesmente vivi tudo aquilo.


Rádio Rock Capital: Como colecionador, tenho dificuldades para encontrar os materiais do Naja e Extravaganza, ambas bandas muito interessantes, nas quais sinto que também é um vocalista diferente e ali consigo encontrar muita influência do “The Voice” Steve Perry. Existe possibilidade de relançamento destes trabalhos? Podemos esperar coisas novas?

China Lee: Agora com a volta do Extravaganza iremos trabalhar primeiro em formato acústico e teremos a banda que provavelmente irá nos acompanhar, e neste período contaremos uma história do Extravaganza, algumas coisas do disco “Simplesmente Rock” e do Naja e Santuário.

Amo o “português”, sou apaixonado pelo Steve Perry, sou apaixonado por seus trabalhos.


Rádio Rock Capital: Gostaríamos de saber como foram os dias de produção do documentário “ Brasil Heavy Metal” e o quanto foi motivador rever musicalmente amigos que fizeram parte da sua história e do heavy metal sul-americano?

China Lee: Não solicitei créditos na produção do “Brasil Heavy Metal”, no entanto fiz parte de todas as etapas, principalmente no processo criativo. Ver todas aquelas pessoas “Bala”, “Tavinho”, “André Matos” e toda aquela galera foi algo incrível. Todos diziam que éramos muito parecidos, pessoas que viveram e amaram a música, longe dos estereótipos. Somos uma família! Éramos, somos e sempre seremos amigos.


Rádio Rock Capital: Sabemos que foi um grande amigo do maestro André Matos, acredito que tenha sido difícil lidar com sua perda. Recentemente tivemos o lançamento de uma biografia e estamos próximos da estreia do documentário do ex Vocalista do Viper, Angra, Shaman, Virgo, Avantasia, carreira solo e muitos outros trabalhos e participações. Quais são suas expectativas sobre a leitura e documentário? Sendo você testemunha ocular em diversos momentos na carreira do André?

China Lee: O André foi um dos maiores incentivadores da minha carreira. Não consigo deixar de me emocionar ao falar do André Matos, quando ele estava no seu auge, sempre me dizia que era um ídolo para ele, sempre me reverenciou, cantamos tantas vezes juntos. Nestes últimos anos nos aproximamos ainda mais, sempre nos falávamos também por meio de fãs. Tinha falado com ele um dia antes do falecimento. Fiquei muito mal com tudo aquilo, perdi um fã um ídolo, um grande amigo. Este cara foi muito importante na minha vida. Espero que tudo que seja feito em nome do André seja feita com qualidade, respeito, quero manter a vida dele viva em nossos corações. Sempre vou apoiar tudo que reverencie este cara, será um presente para todos os fãs.


Rádio Rock Capital: Agradecemos novamente a entrevista e gostaríamos que nos deixasse uma lista com os 5 álbuns que mudaram sua vida e a indicação de 2 bandas nacionais que merecem maior atenção.

China Lee: Muito difícil esta missão...

Revolver : Beatles

Piece Of Mind: Iron Maiden

Shout At The Devil - Mötley Crüe

Britsh Of Stell – Judas Priest

Creatures of The Night – Kiss

Duas bandas que merecem mais carinho são os gaúchos do Gueppardo e os paulistas do Living Metal!

Rádio Rock Capital: Em nome da Rádio Rock Capital desejamos sucesso em todos os seus projetos e que em breve possamos nos ver na estrada, que em meio a dias sombrios encontremos a saída para dias melhores e possamos brindar!

China Lee: Gostaria de agradecer a oportunidade e espero que possamos nos encontrar em breve, fiquem atentos as novidades! Let’s Rock!!!

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